sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sobre a mata-seca. Dr. Isaías Caldeira. Juiz de Direito

Sobre a mata-seca.


Dr. Isaías Caldeira.
Juiz de Direito

O Governador Aécio Neves vem a Montes Claros nesta semana. Ele e seu Vice-Governador, Professor Anastasia, candidato à sua sucessão. Inauguram nestas terras uma ETE, Estação de Tratamento de Esgotos, e outras obras. Somos gratos ao Governador e ao seu governo. Não quero aqui ofender ao Governador e seu Vice, que são homens honrados. Mas este Governo que trata nossos esgotos e que contribui para a despoluição de nossos poucos rios, é o mesmo que, por omissão e conivência, nos condena à miséria, apoiando e fazendo cumprir um Decreto Federal que transforma, pela força de uma norma, a natureza, convertendo em mata atlântica a nossa mata seca, como se dado aos homens tal poder, que aos deuses somente era então reservado. Tendo por títere o Instituto Estadual de Florestas, o IEF, verdugo dos produtores rurais destes sertões, o Governo Estadual , alheio aos apelos dos dirigentes classistas, segue à risca a lei espúria e injusta, convertendo-se em algoz de fazer inveja ao Inspetor Javert, que em sua sanha em levar a ferros o fugitivo João Valjean, esqueceu-se de si mesmo e de sua própria razão de existir, alucinado pela idéia fixa de cumprir com seu dever de policial. Mas o Governador é um homem honrado. Seu Vice também. Entanto, o Governador crava em nossas costas a velha adaga , a mesma que fez tombar César, pois como Brutus, algoz do Imperador, também Aécio Neves foi adotado como filho pelo norte de minas, que nunca lhe faltou com os votos em sua brilhante carreira política, nele depositando a sua confiança e esperança de prosperidade. As nossas terras, de solo quase sempre fraco, de árvores tortuosas, como se denotando o imenso esforço em crescer, foram, por decreto humano, colocadas no mesmo solo onde medra a luxurienta vegetação costeira, embora estejamos a centenas de quilômetros do mar, vedando ao já sofrido produtor norte-mineiro o sagrado direito de laborar em suas terras, transformadas em reservas, cuja intocabilidade está garantida por pesadas multas lavradas pelo Instituto Estadual de Florestas. Que culpa temos se o sul e o triângulo mineiro, no justo e compreensível desejo de progresso, excederam em suas atividades empresarias, na agropecuária e mineração, destruindo o bioma que ali existia? Querem, sabemos todos os norte-mineiros, que permaneçamos com mais de 50% da mata nativa, como forma de compensar a destruição feita por nossos irmãos desenvolvidos, de maneira que, convertendo o norte em reserva Estadual , as regiões ricas possam continuar usufruindo as benesses do progresso, mesmo ao custo de nossa condenação à miséria. Quando questionados, o Governo e seus órgãos de atuação levantam o discurso fácil da defesa do meio ambiente, panacéia para todos os males da atualidade, não faltando nefelibatas que lhes creditem boas intenções. Talvez as tenham, mas não para com o norte de minas, o enteado de quase todos os governos que tivemos. Mas o Governador é um homem honrado, e sabemos que ele , alçado ao poder pelo povo, não se sente envergonhado em servi-lo, e às vozes que se levantam denunciando a injustiça, saberá ouvir, evitando-se mais sofrimento a esta gente simples. Suspenda-se a mão do carrasco. O povo não deseja mais o sacrifício de ninguém, e a sabedoria aconselha aos governantes prudência em seus atos, revogando-os, se contrários ao bem comum. Aqui chegando, Sua Excelência poderá desfazer este mal-entendido, nascido de errônea percepção governamental, proibindo a ação nefasta do IEF, como fez o Governador do Paraná na mesma situação. Amamos sempre mais o filho pródigo que se arrepende, e não há vergonha nenhuma em errar, mas sim em persistir no erro. Seja bem-vindo, Governador, e retire de seu alforje o alimento que nos é indispensável: a esperança , que nos é injustamente negada, de crescimento e prosperidade.

P.S: Dr. Isaías foi juiz em Janaúba e nascido no município de Janaúba. Hoje é juíz em Montes Claros